vez outra sinto que a minha composição química abre espaço para um elemento distinto, uma palavra - e sendo microscopicamente específica - um verbo
e s p e r a r
me presenteia com elasticidade ao mesmo tempo que me comprime
a espera deixa eu que coloque no carrinho as coisas que quero
admire, crie cenários
mas não permite que finalize a compra
me distraio com aquilo, essa perspectiva de um embrulho chegar em minha porta
não ouço quando pela terceira vez anunciam que meu ônibus vai sair - assim perdi mais um ônibus.
às sete da manhã espero que logo venha o nove no ponteiro velho e barulhento
ainda que às nove não tenha nada
a espera que o trajeto até a cidade vizinha seja um desvio repentino para ir ver o mar
a espera
que em uma dessas manhãs alguém acorde e anuncie:
“hoje vamos a praia”
a cada dia espero mais
espero encontrar mais
em pessoa, em chances
que sabe serão esperas que me preencherão
caminhar em direção a algo que nem existe, que nem conheço
novamente
que o relógio se torne 16 horas por que 14:23 é quebrado
as palavras não sentiram desejo de escapulir pelos dedos em um instante tão partido
ou quem sabe seja a oportunidade de um outro alguém dizer aquilo que eu queria ter dito, então às 16 horas eu tenha liberdade pra usar a desculpa que já foi dito-feito, é muito tarde, eu devia esperar um novo dia
uma nova época, uma nova vida
que a vida passe logo para então chega… o momento!
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Géssica, estou feliz que o universo me trouxe até esta edição! Que lindeza! Parabéns pela escrita delicada e gentil.
Obrigada por escrever!
Vai ver a janela nas costas do pássaro é para ele conseguir olhar para o céu enquanto voa, ou para deixar a luz entrar dentro de si, ou simplesmente ver o tempo passar de um jeito diferente. Poema e ilustração lindos. Parabéns.